Thursday, October 06, 2005

Italiano desperta de coma, diz ter ouvido tudo e reacende debate sobre eutanásia

Italiano desperta de coma, diz ter ouvido tudo e reacende debate sobre eutanásia

Reuters

ROMA - Um italiano que passou quase dois anos em coma profundo e era tido como um caso perdido pelos médicos despertou dizendo ter ouvido e entendido tudo o que se passava ao seu redor durante esse longo drama, segundo seus familiares.

Salvatore Crisafulli, pai de quatro filhos, descreve seu caso como um "milagre" que prova que não existem causas perdidas. Sua recuperação parece ter fortalecido a posição dos italianos contrários à eutanásia.

- Estou vivo graças ao meu irmão. Os médicos diziam que eu não era capaz de ter sensações, mas eu escutava e entendia tudo. E chorava de desespero - declarou Salvatore depois de acordar do estado de coma que entrou em setembro de 2003, após um acidente de carro.

O irmão de Salvatore chegou a compará-lo à americana Terri Schiavo, vítima de lesões cerebrais, que morreu em março após dez anos em coma, depois que a Justiça autorizou a retirada do seu tubo de alimentação.

- Os médicos diziam que eu não estava consciente, mas eu entendia tudo - disse Crisafulli, segundo a imprensa italiana nesta quarta-feira.

Os comentários foram feitos ao seu irmão na Sicília quando Crisafulli, de 38 anos, começava a se recuperar lentamente. Ele saiu do coma há três meses, mas só começou ã falar recentemente. Sua primeira palavra foi "mamma", disse sua mãe aos jornalistas.

A notícia surge no momento em que uma comissão nacional de bioética defendeu a obrigatoriedade dos cuidados a pacientes inconscientes, mesmo àqueles contrários a medidas médicas extraordinários para mantê-los vivos.

A comissão governamental, que serve de ponto de referência para os parlamentares, tomou essa decisão no fim de setembro, mas um documento sobre o tema ainda está sendo finalizado.

- Alimentar um paciente inconsciente por meio de um tubo não é um ato médico - disse o presidente da comissão, Francesco D'Agostino.

- É como dar uma mamadeira a um recém-nascido que não pode ser amparado por sua mãe. E então refletimos sobre o caso Schiavo. A mulher foi deixada para morrer de fome.

O caso Schiavo provocou comoção na Itália, onde a Igreja Católica exigiu que os médicos continuassem a alimentá-la, apesar da vontade em contrário do seu marido.

O Papa João Paulo II morreu dois dias depois de Schiavo, e o Vaticano comparou um tribunal americano a um "verdugo" por exigir que o tubo de alimentação fosse retirado dela.

Crisafulli provavelmente nunca mais será o mesmo de antes do acidente. A mãe diz que ele tem dificuldades de fala, mas a família garante que ele parece alerta e consciente.

- Meu irmão fala e se lembra. Não espero que seja como era, mas já um milagre - disse Pietro ao jornal Corriere della Sera.

- E pensar que alguns médicos disseram que tudo seria inútil e que ele estaria morto em três ou quatro meses.


Leia a cronologia do caso Terri Schiavo

Reuters

MIAMI - O caso da americana Terri Schiavo tornou-se uma batalha legal de mais de uma década, envolvendo os pais da americana, o marido dela e os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário dos Estados Unidos. Leia abaixo os principais acontecimentos dos últimos 15 anos.

FEVEREIRO DE 1990 - Terri Schiavo, então com 26 anos, sofre um infarto, que corta a oxigenação de cérebro por alguns minutos, causando-lhe danos cerebrais e colocando-a no que alguns médicos chamam de "persistente estado vegetativo", diagnóstico que foi, posteriormente, aceito por tribunais estaduais. Desde o ataque cardíaco, Terri passou a viver internada em clínicas, sendo alimentada e hidratada por sondas.

1992 - Terri e o marido, Michael Schiavo, recebem indenizações separadas por negligência médica que somam quase um milhão de dólares. Anos depois, Michael disse que o dinheiro foi usado para custear o as despesas médicas de Terri.

1993 - Os pais de Terri, Bob e Mary Schindler, dizem ter um desentendimento com Michael Schiavo com relação às opções de terapia para o tratamento da filha. O casal entrou com uma petição na Justiça para ver Michael destituído do poder de guardião legal de Terri. A ação foi rejeitada.

1998 - Michael Schiavo pede permissão à Justiça para remover o tubo de alimentação que mantém viva sua mulher.

2000/2001 - Em fevereiro de 2000, o juiz George Greer, da Flórida, ordena a remoção do tubo de alimentação de Terri, mas a ordem não é cumprida porque os pais da paciente entram com vários recursos na Justiça. As Supremas Cortes dos EUA e da Flórida recusam-se a intervir no caso, mas um juiz de uma corte civil ordena a recolocação da sonda em abril de 2001, dois dias depois de o equipamento ter sido retirado.

2003 - A sonda de Terri volta a ser removida, mas o governador da Flórida, Jeb Bush, irmão do presidente George W. Bush, pressiona o Legislativo estadual a aprovar um projeto-de-lei, permitindo o governo a intervir no caso. A legislação torna-se conhecida como "Lei Terri" O tubo de alimentação é recolocado na paciente seis dias depois.

2004 - A Suprema Corte da Flórida determina que a "Lei Terri" é inconstitucional.

25 DE FEVEREIRO DE 2005 - O juiz da Flórida, George Greer, determinar que o tubo de alimentação de Terri seja retirado até às 13h (horário local) do dia 18 de março.

18 DE MARÇO DE 2005 - Comitês parlamentares aprovam uma intimação para que Terri Schiavo comparecesse a audiências, em uma manobra para mantê-la viva. No entanto, o juiz Greer rejeita a intimação e o tubo de alimentação é removido.

21 DE MARÇO DE 2005 - O Congresso dos EUA aprova um projeto-de-lei permitindo cortes federais a intervirem no caso Schiavo. O presidente Bush, interrompe as férias em seu rancho no Texas, e sanciona alei. Os pais de Terri entram com ações e moções em uma corte federal de Tampa, na Flórida, para tentar religar tubo de alimentação que mantém viva a filha.

22 DE MARÇO DE 2005 - O juiz distrital James Wittemore, de Tampa, rejeita o apelo dos pais de Terri Schiavo.

23 DE MARÇO DE 2005 - A Corte de Apelações de Atlanta, na Geórgia, rejeita duas vezes recursos impetrados pelos pais de Terri. A Casa Branca diz que não tem mais opções legais e os pais de Terri voltam a apelar à Suprema Corte dos EUA.

24 DE MARÇO DE 2005 - A Suprema Corte dos EUA recusa-se a analisar o caso Schiavo, negando, na prática, o pedido dos pais da americana para reconecta-la ao tubo de alimentação.

25 DE MARÇO DE 2005 - O juiz da Flórida James Whittemore rejeita um novo apelo dos pais de Terri para reconectar o tubo de alimentação à paciente. Imediatamente após a decisão ser anunciada, o casal apresenta um novo recurso à Corte de Apelações de Atlanta.

26 DE MARÇO DE 2005 - O juiz da Flórida George Greer rejeita o apelo dos pais de Terri para que sua filha recebesse alimentação e os seus reflexos fossem examinados. No mesmo dia, a Suprema Corte da Flórida recusa, pela segunda vez na semana, a tentativa dos pais da americana para alimentar a filha.

27 DE MARÇO DE 2005 - Os pais de Terri Schiavo anunciam que não vão mais entrar com recursos na Justiça par atentar manter viva a filha.

29 DE MARÇO DE 2005 - O procurador David Gibbs entra com uma petição de emergência em nome de Bob e Mary Schindler, pais de Terri, na Corte de Apelações de Atlanta.

30 DE MARÇO DE 2005 - Suprema Corte dos EUA volta a se negar a interferir no caso. A Corte de Apelações de Atlanta rejeita o pedido dos pais de Terri para rever o caso.

31 DE MARÇO DE 2005 - Às 9h05m (horário local), Terri Schiavo morre aos 41 anos, em uma clínica da Flórida, depois de ficar 14 dias sem receber água ou alimentação.

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