Friday, October 21, 2005

TESTES DE QI

TESTES DE QI

Origens do QI: Binet e Simon

No início do Século XX, o francês Albert Binet e seu colega Pierre Simon criaram um instrumento bastante engenhoso para a identificação de crianças com um retardamento intelectual que, no futuro, viesse a prejudicar as chances das mesmas no ensino formal. A idéia deles foi a de caracterizar o processo de desenvolvimento da inteligência em função dos problemas lógicos que a maioria das crianças seria ou não capaz de resolver numa determinada idade, estabelecendo uma seqüência de tarefas com dificuldade variando desde as muito fáceis, que mesmo crianças muito jovens poderiam realizar, até as muito difíceis, que apenas adultos poderiam completar.

Com base em sua seqüência de tarefas, eles produziram o conceito da Idade Mental de um indivíduo (criança) como sendo a idade em que a maioria das crianças poderia resolver a tarefa mais complexa que o indivíduo sendo avaliado era capaz de resolver. Assim, se um menino ou menina pudesse chegar a resolver somente até as tarefas que se esperaria que um sujeito de 10 anos de idade pudesse resolver, a Idade Mental desse menino ou menina seria de 10 anos, independente da idade real da criança (chamada de Idade Cronológica) situar-se acima ou baixo desse valor.

De posse da seqüência de tarefas e do conceito de Idade Mental, foi criado o conceito de Quociente de Inteligência, definido como sendo a razão entre a Idade Mental e a Idade Cronológica, multiplicando-se o resultado por 100 para evitar o uso do ponto decimal. Assim, uma criança com Idade Mental de 12 anos e Idade Cronológica de 10 anos teria um Quociente de Inteligência de 120, enquanto que uma criança com a mesma Idade Mental mas Idade Cronológica de 12 anos teria um Quociente de Inteligência de 100 e outra com Idade Cronológica de 16 anos teria um Quociente de Inteligência de apenas 75.

O Quociente de Inteligência surge como um prático indicador quantitativo da precocidade ou retardamento de uma criança em relação à sua idade. Aquelas com Quociente ao redor de 100 estariam dentro do desenvolvimento normal, aquelas acima de 100 seriam precoces e as abaixo de 100 seriam retardadas, com o valor específico fornecendo uma medida da maior ou menor defasagem entre idade e intelecto.

Desenvolvimentos Posteriores

Algum tempo depois de sua criação, o Quociente de Inteligência de Binet e Simon foi levado aos EUA, onde foi transformado, através do emprego de construtos matemáticos e estatísticos mais sofisticados, para situar mais claramente os indivíduos em termos da sua maior ou menor diferença em relação à média das pessoas do seu mesmo grupo etário. Essencialmente, definiu-se que, como na escala francesa original, a média de acertos da população seria considerada como equivalendo a 100, porém, que os acertos um desvio padrão acima ou abaixo disso seriam considerados como tendo um valor respectivamente 16 pontos acima ou baixo de 100, ou seja, 116 ou 84 conforme o caso. O objetivo do uso desses valores específicos foi o de estabelecer um certo grau de equivalência numérica entre a escala nova e a antiga. Para se estabelecer uma diferença entre a escala de Binet e as escalas subseqüentes, foi definido que a primeira seria denominada de "Quociente de Inteligência", enquanto que as seguintes seriam designadas pela abreviação "QI".

A primeira escala de QI foi a revisão da Universidade de Stanford da escala original de Binet, revisão esta denominada de escala Stanford-Binet. Posteriormente, surgiram vários outros testes do mesmo gênero, cada um com suas variações específicas, inclusive com variações nos valores da média e do desvio padrão, mas todos dentro do mesmo paradigma básico de comparação estatística entre o indivíduo e a população da mesma idade. Houve também a ampliação do espectro de aplicação do teste para incluir também a avaliação de indivíduos adultos.

Durante várias décadas, o QI foi considerado como sendo a perfeita medida da inteligência humana, abrangendo a totalidade do potencial intelectual de um indivíduo. De fato, inúmeros estudos apontaram para uma clara relação entre o nível de QI e o sucesso acadêmico e profissional. Como conseqüência, disseminou-se rapidamente o seu emprego nas escolas, universidades, instituições governamentais e empresas privadas, particularmente nos EUA, sendo o teste usado tanto para acompanhamento quanto para seleção.

A partir do final dos anos 70, diversos pesquisadores começaram a apontar várias falhas ou lacunas dos testes de QI em termos da sua capacidade de abranger a totalidade das faculdades intelectuais de um ser humano nos diversos contextos e situações, bem como as limitações do seu potencial em termos de prever o futuro sucesso pessoal e profissional. Como conseqüência, o significado dos chamados testes de inteligência foi reavaliado, com os mesmos sendo considerados atualmente uma medida de um conjunto específico de habilidades mentais (o raciocínio lingüístico e lógico-matemático) num determinado contexto (o conhecimento acadêmico e formal), e não mais como um reflexo de uma capacidade mental global.

Alcances e Limitações do QI

O teste de QI constitui uma das medidas psicológicas mais estáveis e confiáveis de que se tem notícia, havendo uma farta literatura sobre sua prevalência nos diversos segmentos da população e sobre a sua relação com diversos fatores de interesse. Apesar de não representar aquela medida da capacidade intelectual geral que se acreditava até os meados do Século XX, trata-se de um instrumento de valor imprescindível quando se trata das habilidades mentais envolvidas no desempenho escolar e/ou na manipulação do conhecimento formal.

O importante para se saber como fazer um bom uso da informação fornecida por um QI é ter uma noção clara do que pode ou não ser inferido a partir dele, o que é apresentado de forma resumida no quadro a seguir.

Fatores Que Podem ou Não Ser Medidos Pelos Testes de QI
O Que o QI Mede Bem O Que o QI Não Mede Bem
  • Habilidade lingüística;
  • Raciocício lógico-matemático;
  • Pensamento analítico;
  • Capacidade de abstração teórica;
  • Aptidão escolar e pensamento acadêmico;
  • Erudição e escolaridade efetiva.
  • Senso-comum e conhecimento informal;
  • Intuição e bom-senso;
  • Criatividade e originalidade;
  • Liderança e sociabilidade;
  • Aptidão artística;
  • Capacidade musical;
  • Habilidade corporal e atlética;
  • Moral e ética;
  • Motivação;
  • Controle emocional.

Essencialmente, o QI mede tudo aquilo que lida com uma lógica formal aplicada ao conhecimento acadêmico num contexto escolar ou abstrato típico de sociedades ocidentais metropolitanas. Isso inclui os requisitos intelectuais para atividades como a pesquisa científica, o trabalho acadêmico, lidar com a alta tecnologia, realizar cálculos e estimativas, escrever ensaios e artigos, realizar palestras, fazer avaliações e auditorias, etc.. Naturalmente, não estão incluídos os fatores motivacionais, emocionais e ambientais necessários para o sucesso em qualquer atividade, tampouco os requisitos intelectuais associados a empreendimentos em contextos culturais diferentes do mencionado acima.

Interpretação do QI

O Significado do QI

O valor de um determinado nível de QI costuma ser interpretado em relação a ele se encontrar acima, ao redor, ou abaixo da média, além da prevalência na população em geral de pessoas que apresentam tal nível de QI. Com base nisso, a tabela a seguir mostra uma classificação geral bastante prática.

Classificação Geral dos Níveis de QI
Faixa de QI Pessoas Com QIs Até a Faixa Considerada Classificação
< 74 Menos de 5% Infradotado
75-89 5 - 25% Abaixo da Média
90-110 25 - 75% Mediano
111-125 75-95% Acima da Média
> 126 Mais de 95% Superdotado
Obs: É interessante observar que, dada as suas propriedades matemáticas, o QI não é um valor absoluto, ou seja, não se pode dizer que um QI de 100 seja o dobro de um QI de 50, mas é possível sim afirmar que a diferença entre um QI de 50 e um de 100 é a mesma que existe entre um QI de 100 e um de 150.

É interessante observar que, desde o surgimento de testes padronizados, considera-se de habilidade mental superior o indivíduo que obtiver um QI maior ou igual a 130-135 (acima de 97-99% da população) num teste de inteligência de boa qualidade. Posteriormente, houve quem considerasse já a partir de qualquer valor superior a 120 (acima de 90% das pessoas em geral) e outros que o fizessem apenas a partir do índice 140 (acima de 99.4% dos indivíduos). Contudo, desde a década de 70, o índice acima de 126 (maior que o de 95% da população) tem sido adotado mais unânimemente para identificar um indivíduo como superdotado. Em outras palavras, um dos principais critérios modernos para a identificação da superdotação intelectual é considerar aqueles que obtiverem resultados dentro dos 5% mais altos em testes de inteligência reconhecidos.

Os QIs de Diversos Grupos

Uma forma de se compreender o significado e as implicações dos diversos valores de QIs é avaliando as médias encontradas para diversas camadas da população, como fez Burt (1963) nos EUA.

Os QIs de Diversos Grupos Segundo Burt (1963)
Grupo QI Médio Classificação do QI
Trabalhadores Não-Especializados 95 Mediano
Total da População 100
Alunos do 2° Grau 107
Concluíntes do 2° Grau 110
Alunos Recém-Ingressos na Universidade 115 Acima da Média
Portadores de Curso Superior 120
Portadores de PhD 130 Superdotado
Cidadãos Listados no American Men of Science 140
Alunos Diplomados Cum Laude nas Melhores Pós-Graduações 150
Grandes Gênios do Passado 180

A tabela acima mostra com clareza a distinção entre os diferentes níveis de QI quanto à capacidade de lidar com o conhecimento num contexto acadêmico e formal. Ela também indica uma óbvia associação entre QI e renda.

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